sábado, 13 de setembro de 2025

a escravidão do pecado

 

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Texto da aula
Ferro e Fogo

Adão e Eva e a escravidão do pecado

No início da História da Salvação, está a queda de Adão e Eva, que preferiram seguir as mentiras de Satanás a crer no que Deus lhes revelou. Assim, a humanidade foi submetida aos grilhões do pecado.

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Conforme temos dito, o Criador quer nos levar a experimentar uma felicidade sobrenatural, como participantes da natureza divina — como o ferro que é colocado em contato com o fogo. E o modelo máximo dessa relação, desse casamento do humano com o divino, é Jesus Cristo, em quem estão perfeitamente unidas estas duas naturezas, sem mistura nem confusão.

Mas esse projeto do Criador foi danificado pelo próprio homem. De fato, quando criou Adão e Eva, o Senhor infundiu neles a sua graça. Não se tratava de algo próprio da natureza humana, como são, por exemplo, os cabelos da nossa cabeça ou os membros do nosso corpo. Pernas e braços, “é digno e justo” que o homem os possua. Se Deus fizesse crescer uma perna nova no corpo de um perneta, é claro que isso seria um milagre; mas não seria uma graça no sentido mais próprio do termo, pois a perna é um elemento constitutivo da natureza humana, um bem devido a nós pelo simples fato de sermos homens. A graça de que falamos, no entanto, é um bem indevido a nós, algo verdadeiramente sobrenatural, dado “de graça”, não por justiça.

Adão e Eva, dizíamos, receberam de Deus essa graça de participar da natureza divina. Era esse o projeto original dele para a humanidade. Não era a participação plena, digna dos grandes santos, mas já havia fogo naquele ferro, digamos assim. 

Nossos pais, no entanto, apagaram aquela centelha de santidade. É o que nos ensina o Gênesis ao falar de sua expulsão do paraíso: uma linguagem simbólica para exprimir a desgraça em que eles caíram, e também nós, por corolário. É como se eles fossem sumamente ricos, trilionários, e dilapidassem, de uma só vez, numa só aposta, todo o patrimônio, deixando-nos também a nós, seus legítimos herdeiros, na extrema pobreza, na miséria. Dizendo de outro modo: por iniciativa própria, Adão e Eva se colocaram sob o domínio de Satanás — e debaixo dessa mesma cadeia estão todos aqueles que não receberam o Batismo. 

Menciono Satanás porque — é importante recordar — os anjos maus existem! A desgraça não tocou apenas a natureza humana. 

No Credo de Niceia, por exemplo (cujo aniversário de 1700 anos estamos a celebrar), nós confessamos: Credo in unum Deum, Patrem omnipotentem, factorem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium — “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Estes céus e terra aqui aludem justamente ao que é visível e ao que é invisível: Deus criou não só o mundo material, mas também os anjos [1]; os quais eram bons, mas alguns deles se rebelaram contra Deus. Também neles o Criador infundira de graça a sua graça, um bem que era indevido também à sua natureza angélica; para que participassem da felicidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo — vendo a Deus como Ele mesmo se vê, e amando-o como Ele mesmo se ama —, também em sua natureza de criaturas precisava acontecer uma modificação. 

Porém, como sabemos, alguns anjos, capitaneados por Satanás, jamais viram e jamais verão a Deus face a face, porque rejeitaram o dom da graça. A Escritura fala de “um terço” deles. A partir de sua revolta, então, movidos por inveja para com o ser humano, esses demônios têm trabalhado com afinco para nos impedir de entrar no Paraíso. 

Tudo começou pela tentação de nossos primeiros pais, no Éden. Por isso dissemos que, ao cederem, Adão e Eva perderam a graça de Deus e tornaram-se escravos de Satanás. Daí sermos, desde então — como rezamos na Salve Regina —, os “degredados filhos de Eva”. Degredo quer dizer exílio: Deus nos fez para participar de sua felicidade, no Paraíso; mas estamos exilados, fora de nossa Pátria verdadeira, apartados da vida de Deus. E se não nos reconciliarmos com Ele pelo Batismo — por meio do qual, concretamente, Jesus restaura em nós a graça que Adão nos havia perdido —, não há que se falar para nós de Céu. 

Aqui podemos entender melhor o que Deus tinha em mente ao acautelar Adão e Eva do fruto proibido no Éden. Ele dizia: “Vós morrereis”. Curiosamente, o relato bíblico diz que, depois de provarem do alimento vetado, eles continuaram vivos. Teria Deus mentido? É evidente que não. Satanás que é mentiroso e “homicida desde o princípio” (Jo 8, 44). Acontece que Deus falava aqui, sobretudo, da morte espiritual; era a sua vida divina em nós que cessaria de existir. A morte física entrou no mundo também, é verdade, mas a morte eterna é muito pior do que isso. Se Satanás mata um católico em estado de graça, ele terá perdido essa alma, que vai para o Céu. O que ele quer, portanto, é prolongar ao máximo nossa vida, aqui neste mundo, de tal forma que tenhamos mais chances de pecar e, consequentemente, perder a vida eterna. Esse é o homicídio principal que ele quer praticar.

Uma das principais armas que o demônio tem a seu dispor, neste trabalho de escravizar-nos, matar-nos espiritualmente, é a mentira. E um grande instrumento seu sempre foram as falsas religiões pagãs. 

Fala-se muito hoje em dia de diálogo e paz com todas as religiões. Mas é preciso ter em mente que a maior parte das religiões atuais, pelo menos as que conhecemos, beberam muito da cosmovisão cristã, com o que atenuou-se muito a maldade que lhes era inerente. As religiões antigas, porém, anteriores ao cristianismo, estavam todas baseadas nos horrores dos sacrifícios humanos. 

Na escola, aprendemos, por exemplo, que os espanhóis vieram à América só para escravizar os indígenas. Até então, segundo se idealiza, estes viviam felizes, como o bom selvagem de Rousseau, numa espécie de paraíso terrestre, completamente livres da corrupção da sociedade. No entanto, a verdade é que, quando Hernán Cortés e seus homens chegaram ao México, antes de se encontrarem com Montezuma, rei dos astecas, foi surpreendente o que eles encontraram: incontáveis cadáveres e pessoas aprisionadas para sacrifícios humanos. A sede de sangue era tamanha que, só na dedicação de seu templo principal, os astecas sacrificaram mais de 80 mil pessoas. Ante tal horror, como não lembrar aqui, com o salmista, que “todos os deuses dos pagãos são demônios” (Sl 95, 5)? Seria acaso falta de “sensibilidade ecumênica” reconhecê-lo? Todas as religiões pagãs estavam fundadas, de fato, nos sacrifícios humanos — e, quando não havia morte explícita, era possível notar vários resquícios dessas práticas na cultura a elas associadas, uma cultura cuja marca distintiva era justamente a descartabilidade do ser humano. 

Ora, observemos a realidade brasileira, cuja cultura infelizmente já não é mais cristã: aqui, o aborto já é prática normal e, anualmente, são assassinadas cerca de 45 mil pessoas — dados estatísticos que ouvimos no telejornal como notícias sem importância. Para um outro exemplo: na Rússia, também de cultura pós-cristã, toda mulher conhece uma colega que já tenha abortado — não raro, mais de uma vez. 

Então é evidente que vivemos sob o imperativo de uma cultura para a qual o ser humano é descartável, assim como nas culturas antigas. Por exemplo, entre os amonitas — vizinhos dos hebreus — havia o culto ao deus Moloch, que exigia que bebês fossem lançados pelos seus próprios pais dentro de um caldeirão de fogo. O método de crucifixão foi desenvolvido pelos babilônios — vizinhos dos assírios — e tinha como objetivo fazer um condenado morrer da forma mais lenta e dolorosa possível. 

Só mais tarde a crucifixão foi adotada pelos romanos, que aperfeiçoaram o método com requintes de crueldade. Aproximadamente cem anos antes de Cristo, esses mesmos romanos aboliram os sacrifícios humanos, mas a sua cultura ficou marcada pelo desprezo à dignidade do homem: basta ver como os gladiadores eram mortos nas arenas só para o contentamento do público. Na Roma Antiga não havia aborto por falta de método, mas a criança rejeitada era exposta, deixada ao léu para morrer. Esses pequenos abandonados só começaram a ser acolhidos quando a fé cristã disseminou-se no Império Romano e surgiram os primeiros orfanatos. 

Além disso, na Antiguidade, o exercício do poder era indissociável da política e da religião — com esta se tornando, quase sempre, um instrumento para escravizar as pessoas e submetê-las a um império político. Esse sistema só foi destruído com Nosso Senhor, que disse: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).

Há quem diga que os missionários portugueses vieram para o Brasil, como os espanhóis foram para o México, só para destruir o paraíso tropical dos nativos. Hoje os índios brasileiros, outrora pagãos, são mais ou menos cristianizados; por isso ficamos escandalizados quando ouvimos dizer que, em determinada tribo, nos dias atuais, uma criança foi enterrada viva [2]. Mas isso era hábito corriqueiro na cultura. Porque somos cristãos, tendemos a achar que as pessoas sempre se opuseram a esse tipo de atrocidade. Mas não. Conforme os relatos históricos, quando os portugueses desembarcaram nas praias do Brasil, as mães indígenas foram até eles dispostas a trocar os seus próprios filhos por quaisquer quinquilharias e bugigangas. 

Conta-se que São José de Anchieta foi dar os sacramentos a uma índia que se converteu no leito de morte. Ao perguntar a mulher qual seria o seu último desejo, Anchieta ouviu atônito que a velha índia gostaria de comer uma “sopa de dedinhos de criança” — ela só reprimiu o desejo pois, evangelizada, lembrou-se que tal coisa não agradava a Deus. 

É um dentre tantos exemplos do quanto o canibalismo estava enraizado na cultura dos nossos indígenas. Aliás, o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, foi devorado pelos índios depois de um naufrágio. E quando não era o canibalismo, o desprezo pela vida se expressava em outros costumes bastante reprováveis. Em certa ocasião, quando São José de Anchieta e o Padre Manoel da Nóbrega foram feitos cativos dos índios, estes, ao verem a bondade dos prisioneiros, ofereceram suas próprias filhas para que os padres as usassem sexualmente. 

Isso é o paganismo. Essa é a marca da sociedade pagã, que tem a assinatura de Satanás: um mundo cuja ideologia mestra é o completo desprezo pela vida humana. E foi precisamente disso que Deus nos resgatou, a começar por seu chamado a Abraão.

Os sacrifícios humanos, por exemplo, eram prática corriqueira nos reinos mesopotâmicos de onde saiu o nosso pai na fé. Por isso não deve escandalizar-nos a célebre passagem em que o Senhor inspira Abraão ao sacrifício de Isaac (cf. Gn 22): ora, se os povos pagãos entregavam seus filhos à morte por amor aos falsos deuses, por que o patriarca não poderia ter o mesmo desapego em nome do Deus verdadeiro? No fim, porém, o Senhor revela que queria apenas a disposição em sacrificar, e não propriamente o sacrifício; Deus queria ver no coração de Abraão a fé e a obediência que faltaram a Adão e Eva. Pois foi justamente por não crerem em Deus, por terem cedido à mentira de Satanás, que nossos primeiros pais — e com eles toda a humanidade — se viram cativos da cultura homicida de que falamos.

Veja-se como, então, diferentemente do que costumamos pensar, não existe uma terceira via entre o bem e o mal. No fundo, temos sempre de escolher entre servir a Deus ou ao diabo. Fazer a nossa própria vontade não é uma terceira alternativa, neutra e sem compromissos. É Satanás quem se alegra quando nos negamos a fazer a vontade divina! É com sua rebelião que coincide nossa recusa em obedecer. Não nos enganemos: quando decidimos fazer a nossa vontade, afastando-nos de Deus, na ilusão de sermos “livres” e autônomos, estamos entrando nas fileiras do inimigo. Afinal, a primeira criatura a agir conforme a própria vontade, e contra a divina, foi Lúcifer. 

Portanto, não há decisão neutra. Deus disse: “Coloco diante de vós dois caminhos: a vida e a morte” (Dt 30, 15). 

É claro, temos nossa liberdade; mas não somos livres para determinar as consequências das nossas escolhas. Foi o que aconteceu no jardim do Éden — e é o que acontece cotidianamente conosco. Não podemos escolher, ao mesmo tempo, ingerir veneno e permanecer vivos. Ora, o pecado, qual veneno, também é mortífero. Quando escolhemos pecar, caímos em uma espiral da qual só sairemos por meio de um Redentor.

Como dissemos, Deus iniciou esse processo de resgate ao chamar Abraão, tirando-o daquelas religiões mortíferas que havia ao seu redor e provando-o pela fé. 

Quando Deus prometeu um filho a Abraão, ele já era centenário, e sua esposa, Sara, estava na menopausa há muito tempo. Humanamente falando, portanto, não havia possibilidade de uma gravidez. Quando o mensageiro de Deus apareceu ao casal, anunciando que no próximo ano Sara daria à luz, ela riu. Mas com o nascimento de Isaac a promessa foi cumprida. 

Deus porém o pediu de volta, em um ato de sacrifício, para ensinar ao nosso pai na fé que nada, nem mesmo um filho, poderia ser colocado em seu lugar. Deus também nos dá seus dons, seus presentes, suas graças; mas nós não podemos colocar essas coisas acima do nosso eterno Benfeitor. Eu, por exemplo, não posso colocar meu sacerdócio acima do amor a Deus. Se fosse colocado em uma encruzilhada, na qual precisasse escolher entre Ele e o meu sacerdócio, não deveria hesitar — como fez Abraão. Pois bem: qual é o nosso Isaac? O que recebemos da Providência que agora tomou o lugar de Deus? 

De fato, o pedido do Senhor para que Abraão sacrificasse seu filho parece absurdo. Comentando o episódio, porém, São Paulo diz que nosso patriarca cria que Deus podia ressuscitá-lo dos mortos (cf. Hb 11, 19). A bem da verdade, a vontade divina era que Abraão matasse não Isaac, mas, sim, o ídolo que ele havia feito em seu coração. 

Eis a nossa jornada de regresso a Deus, que começa com a . O primeiro passo para o ferro transformar-se em fogo — nosso objetivo nessa jornada — é crer. Foi de fato uma grande desgraça nossos primeiros pais, Adão e Eva, terem dado ouvido àquela serpente, Satanás. O remédio para desfazer esse mal, porém, é crermos em Deus: sim, nós somos tolos, maus e impotentes; creiamos nele, portanto, que é bom, sábio e poderoso.

Nota

  1. Estes parágrafos são uma síntese do que tratamos no curso Anjos e Demônios, falando de angelologia, e no curso Livrai-nos do Mal, falando de como podemos proteger-nos das influências dos demônios.
  2. Fui chamado certa vez para batizar uma criança indígena recém-nascida que estava na UTI da Santa Casa de Cuiabá. A criança havia sido enterrada viva pela mãe e a avó, respectivamente de 15 e 30 anos de idade. Ela foi salva pelos policiais militares, que a desenterraram e a levaram para o hospital

Nossa uniao com a natureza divina

 

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Texto da aula
Ferro e Fogo

Nossa união com a natureza divina

A imagem do ferro submetido ao fogo, para ser moldado, é uma metáfora riquíssima da relação entre a natureza humana e a divina, pela qual a humanidade, frágil e imperfeita, é transformada por Deus.

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Dizíamos que, nesta série de aulas, nossa pretensão é fazer uma verdadeira síntese da nossa vida cristã — um enfeixamento da moral, da dogmática, da ascética, da teologia da graça, da história da Igreja, da vida dos santos e do Magistério com a nossa vida cotidiana.

Já falamos sobre a nossa vocação para participarmos da natureza divina. Porque era difícil esclarecer o conceito de “natureza”, falamos então da felicidade: há a felicidade do cãozinho, a nossa felicidade e a felicidade própria do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Se um cachorro quisesse participar da nossa felicidade, ele teria de passar por uma mudança substancial; o bicho teria de ser elevado da natureza canina para a natureza humana. Conosco aconteceria algo análogo: a fim de participarmos da natureza divina, precisaríamos ser elevados. 

Digamos desde já que esta é a grande miséria do protestantismo: eles não creem nessa transformação [1]. Para os protestantes, Deus salva o homem pecador por meio de um decreto. O Céu seria como um homem que, almejando ter um filho, adota um cãozinho do canil e o coloca em um berço de criança, com toda a dignidade de um ser humano recém-nascido. Contudo, a natureza do animal não foi transformada — a criatura envolta em fraldas continua a ser um cachorro. Já para o católico, o Paraíso é transformar o animal a fim de que ele realmente comece a se comportar como filho, isto é, para que ele tenha um comportamento sobrenatural. 

Foi para isso que, sem deixar de ser Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade assumiu a nossa natureza humana. Eis o porquê de não haver salvação sem o Verbo encarnado. Ou seja: se Deus não viesse, por meio de Jesus Cristo, participar da nossa vida, não poderíamos participar da sua — portanto, não haveria salvação, não haveria Céu.  

Para nos ajudar a entender essa participação do humano no divino, os santos, há milênios, usam o exemplo do ferro e do fogo. 

A natureza do ferro é ser duro, frio, opaco; o ferro é fosco, não brilha. No ser do ferro há qualidades que determinam o modo como ele se comporta. É próprio do ferro, por exemplo, cair quando lançado para os ares, e não alçar voo. Se conseguimos fazer com que o ferro voe, quem sabe, como componente de um avião, é porque houve ali uma modificação. Do mesmo modo, não é próprio da natureza do cãozinho receber, com lágrimas nos olhos, o dono que chega em casa; o animal, por mais “educado” que seja, não tem em seu ser essa natureza. Ele teria de se elevar muito acima disso. E quanto ao ser humano, não é próprio da nossa natureza suportar ofensas terríveis dos algozes e, não obstante, ainda dizer: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). A nossa reação diante de alguém que age assim só pode ser a do bom ladrão, que reconheceu ali um agir verdadeiramente divino. Suplicante, o ladrão arrependido pediu para ser lembrado por Jesus porque ele sabia: um homem comum jamais se comportaria daquela forma. 

Ora, a reação do ferro em contato com o fogo é análogo ao que se dá na pessoa divina de Cristo: uma humanidade abrasada pela divindade; um ferro que se comporta como fogo; um homem com agir divino. Jesus realizou os seus milagres, pregou o Evangelho e nos deixou a sua Igreja precisamente para que pudéssemos entender que Ele conhece a Deus como Deus conhece a si mesmo. Cristo ama a Deus e participa de sua felicidade como Ele se ama e é feliz. Mas Jesus não quer que simplesmente saibamos disso; quer que também participemos dessa realidade. Ele quer incendiar o nosso ferro frio e fazer-nos verdadeiramente divinos. 

Foi o que aconteceu em Pentecostes: o fogo veio até a Igreja. Do Céu, Nosso Senhor enviou o Espírito Santo a fim de que recebêssemos, por seu intermédio, a “participação na natureza divina”. 

A palavra grega que aparece aqui, ainda na Segunda Epístola de São Pedro, para referir-se a isto que chamamos de “natureza”, é φύσις (physis); natura, em latim. 

Nunca é demais esclarecer que estamos empregando o termo “natureza” em seu sentido filosófico: trata-se do que faz uma coisa ser o que ela é, e comportar-se em conformidade com isso. Não estamos usando a palavra em seu sentido mais comum, relativo ao meio ambiente, à fauna e à flora. 

Quando falamos de “natureza”, então, ninguém pense em um mico-leão dourado saltando entre os galhos de uma árvore na Mata Atlântica. Porque é nisto que pensam, por exemplo, os cientistas, psicólogos e ativistas LGBT, quando ouvem a Igreja declarar que “os atos homossexuais são contra a natureza”. Tão logo lhes chegam aos ouvidos esta frase, querem eles rebater com argumentos próprios da biologia, falando do comportamento homossexual dos golfinhos, dos primatas do Congo etc. Na “natureza”, conforme eles dizem, há atos homossexuais. Contudo, não é à natureza biológica, zoológica ou fisiológica que a Igreja se refere aqui. Essa não é a “natureza” da linguagem filosófica.  

Conforme a filosofia, quando observamos a dinâmica natural dos órgãos reprodutores masculino e feminino, constatamos que ambos se encaixam perfeitamente, por assim dizer. Isso porque esses órgãos foram feitos precisamente para tal união. A natureza dos órgãos reprodutores é produzir um único resultado: uma criança. O que implica dizer que a natureza, a finalidade dos órgãos sexuais no ser humano, não é produzir prazer — embora também haja prazer. 

Observemos outro exemplo: a comida. Podemos contemplar a beleza da comida, pô-la na boca, saborear o seu gosto, apreciar-lhe o aroma e a textura e, por fim, a sensação de saciedade. Tudo isso causa prazer, mas a finalidade da comida é tão somente nutrir. Se, num ato de desatino, alguém inventasse um sistema que regurgita a comida ingerida só para que se pudesse sentir prazer novamente ao comer, alguém diria com razão que isso é contra a natureza. Ora, isso porque os prazeres inerentes à comida existem tão somente para incentivar o animal a se nutrir — caso contrário, ele padeceria de fome. Se um animal passasse a comer por puro prazer mas, insatisfeito, usasse esse sistema de regurgitar o alimento — sem se nutrir —, certamente morreria. A finalidade do nosso sistema digestivo, com toda a sua complexidade, é a nutrição, não o prazer. 

Os atos homossexuais são análogos a isso. Visam o prazer, mas desassociado da reprodução, que é a finalidade mesma dos órgãos sexuais. E como tais atos são uma ampla gama de recreações que o homem moderno teima em chamar de sexo, mas que estão bem longe de sua “natureza”, tal como Deus a pensou.

Isso implica a triste realidade atual de que a humanidade está acabando. Por exemplo: nós podemos dizer que a Europa é um fenômeno histórico em vias de extinção. As pessoas que representam a matriz genético-europeia não estão se reproduzindo a uma taxa suficiente de reposição. Portanto, a certeza é matemática: a Europa acabou. No Velho Mundo, quem se reproduz a taxas astronômicas são os imigrantes, mormente os árabes. Infelizmente, não há na história exemplo de civilização que tenha se recuperado depois de atingir níveis baixíssimos de reprodução, como a Europa. Certa feita, ouvi de um padre italiano amigo, voltando de viagem à sua terra natal, que a Itália havia acabado. Ele explicou com um exemplo da própria família: tinha quatro sobrinhos, todos maiores de 40 anos, ainda vivendo com os pais e sem pretensão alguma de casar-se. 

Verdadeiramente, é um desafio reverter este processo cultural. Pois uma civilização inteira assentiu à ideia errada de que a finalidade do sexo é não a reprodução, mas o puro prazer.

Todo este esforço foi para que entendamos o significado da palavra “natureza”: o ser de uma coisa que desemboca num agir próprio daquela natureza. É próprio da natureza dos órgãos sexuais a reprodução; dos órgãos digestivos, a nutrição; da natureza humana, o ser humano. 

Agora voltemos: a natureza divina não é própria da natureza humana. O que significa que, por natureza, nós não somos filhos de Deus. Para tanto, precisaríamos ser “Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai”. Neste sentido próprio, só Nosso Senhor Jesus Cristo é Filho de Deus.

Acontece que Jesus não é somente Filho de Deus; Ele também “se encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria e se fez homem”. Ou seja: depois do fiat de Maria, o Filho de Deus passou a ser algo que não era antes; tornou-se também “filho do homem”. Em diversas passagens do Evangelho, Nosso Senhor se denomina assim: como בַּר אֱנָשׁ (bar aneesh, em aramaico), isto é, filho da fragilidade, da natureza humana — filho de Maria, como confessamos.

Em Cristo, portanto, há duas naturezas: ferro humano e fogo divino. Nele vemos, como diz a Carta aos Hebreus, Deus feito κατὰ πάντα καθ’ ὁμοιότητα χωρὶς ἁμαρτίας (kata panta kath’ homoiotēta chōris hamartias): “em tudo semelhante a nós, exceto no pecado” (4, 15). Por isso Ele viveu trinta anos, de forma plenamente humana, para que não houvesse dúvidas quanto à sua natureza de homem. De tal modo que, quando Jesus começou a pregar, as pessoas de Nazaré ficaram abismadas com a sua inteligência, porque o tinham na conta de simples carpinteiro, desprovido de outros talentos. Daí a sua resistência em dar o passo da fé e crer nele como Filho de Deus. 

Mas Ele também se comportou de modo realmente divino, como já dissemos. Perdoar os seus algozes, como ele fez, não é próprio do ser humano. Também o ferro, como sabemos, quando suficientemente aquecido, começa a se comportar como fogo — soltando até labaredas. Com seu coração e alma humanos, Nosso Senhor revela um homem comportando-se divinamente. 

A grande maravilha é que Cristo não reservou isto para si, mas quis partilhá-lo conosco. Foi por isso que São Paulo disse: “Vivo, mas não eu; Cristo vive em mim” (Gl 2, 20). O Apóstolo só foi capaz de dizê-lo porque o Espírito Santo uniu a sua alma à de Cristo — e assim, o que era ferro, passou a se comportar como fogo. 

A Sagrada Escritura nos diz que Paulo foi testemunha do martírio de Santo Estêvão: “E apedrejaram Estevão, que orava e dizia: ‘Senhor Jesus, recebe o meu espírito’. Posto de joelhos, exclamou em alta voz: ‘Senhor, não lhes leve em conta este pecado’. A estas palavras expirou” (At 7, 59-60).

Ora, não temos aqui, na prática, a transcrição da morte de Cristo? São Lucas, que também é o autor dos Atos dos Apóstolos, narra: “Enquanto Jesus era pregado na cruz, Ele ia dizendo [ia repetindo]: ‘Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Os cristãos que testemunharam o martírio de Santo Estevão não poderiam dizer que estavam diante de Nosso Senhor? As últimas palavras de Cristo no alto da Cruz foram: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46); e as de Estêvão foram: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. Não é notável a semelhança?

Quando Estêvão foi martirizado, no entanto, Paulo era ainda perseguidor dos cristãos; Estêvão fora apedrejado com sua chancela. Foi no caminho de Damasco que tudo mudou, e Jesus lhe apareceu dizendo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9, 3-4). Ou seja, no ato de perseguir Estêvão, era o próprio Jesus que ele perseguia. 

Eis o mistério da Igreja! Unidos a Ele formamos um só corpo. E essa metáfora vai para além da mera poesia: é um esforço por descrever como é que participamos da natureza divina! De modo que, quando crescemos na santidade, ficamos maravilhados com a nossa nova forma de vida: temos uma paciência, uma caridade, uma inteligência, que antes não possuíamos. Assalta-nos uma  surpresa semelhante à dos nazarenos, confundidos por ver atos divinos em simples homens — qual labaredas de fogo a brotar do ferro frio de nossos corações. Eis o projeto de santidade que Deus tem para nós.

Nota

1. Estamos apresentando a teologia protestante de forma prosaica, grosso modo. É claro que os seus expositores não a elaboram desta maneira. Seja como for, eles não creem na santidade. Na visão luterana, presbiteriana, batista etc., o homem não pode se comportar divinamente, com um amor sobre-humano.

O projeto sobrenatiral de Deus para nós

 Ferro e Fogo

O projeto sobrenatural de Deus para nós

Muitas vezes, as várias dimensões da nossa vida parecem ser realidades isoladas. Este curso pretende apresentar uma síntese existencial da vida cristã, a fim de alcançarmos o projeto de Deus para nós.

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Iniciamos agora esse curso em comemoração aos 19 anos do site padrepauloricardo.org. Um curso que não tem um nome, mas cuja finalidade pode ser resumida não num título ou num tema, mas na seguinte frase que transmite o meu firme desejo: quero levá-los para o Céu.

Mas, se quero levá-los para o Céu, é preciso um roteiro. E o roteiro do curso é entender tudo o que temos feito no site ao longo dessas quase duas décadas, e o que a Igreja tem feito ao longo desses quase dois milênios. É, portanto, uma tentativa de síntese. 

Vários teólogos, mais importantes e mais competentes, tentaram fazer uma síntese do cristianismo: Santo Tomás de Aquino, com sua Suma Teológica; Karl Rahner, teólogo liberal que foi perito no Vaticano II, com seu Grundkurs des Glaubens, “Curso Fundamental da Fé” (obra que, na minha opinião, vale mais pelo título que pelo conteúdo); e mesmo o então Pe. Joseph Ratzinger, em Einführung in das Christentum, “Introdução ao Cristianismo” — livro que derivou de palestras muito concorridas, ministradas na Universidade de Tübingen, Alemanha, em 1967, ano do meu nascimento. 

Diante de tantos esforços, quem sou eu para também me arriscar a fazer uma síntese?

Digo que não tento fazê-la pela importância que venha a ter, mas por um senso de missão. Creio que todos nós, em certo momento, precisamos nos empenhar em amarrar as pontas daquilo que é a nossa vida cristã. Porque, muitas vezes, deixamos de ver conexão entre os atos de caridade e a vida de estudos; entre os dogmas e a nossa vida espiritual; entre a mística e os afazeres domésticos, as atividades profissionais, o lazer, a alimentação e os cuidados com a saúde. Parece então que vivemos várias vidas. É como se fôssemos máquinas com diversas funcionalidades: o modo católico, o modo academia, o modo festa, o modo de estudo, e assim por diante. É uma espécie de fragmentação existencial que devemos consertar exatamente por meio dessa busca de síntese. 

Há quem entenda a palavra síntese como sinônimo de resumo. Não é isso. Tenho quase 58 anos. Embora não me sinta como tal, sou praticamente um sexagenário. E, do alto dessa idade, noto que agora sou capaz de certas coisas de que não era na juventude ou no início da vida adulta. Uma delas é esse trabalho de síntese, que consiste em olhar para as experiências acumuladas de um ponto de vista mais abrangente, mais universal — como um alpinista que, no sopé da montanha, tem uma visão bastante limitada, mas, atingindo o cume, é capaz de captar tudo o que há no vale, numa bela vista panorâmica. 

Vamos ao longo da vida enriquecendo nossa experiência de mundo, estudando, contemplando verdades, até que, de repente, tudo parece se juntar e ganhar uma coerência antes sequer imaginada. Em linguagem técnica, as verdades e experiências coalescem. E quando um ser humano conquista essa capacidade, essa visão de conjunto, é sinal de que atingiu um nível superior. E isso, senão por uma graça especialíssima de Deus, é quase impossível para os mais jovens, que não tiveram ainda tempo de acumular experiências — boas e más — e conhecimentos suficientes.  

Por isso julgamos ser tempo de fazer esta síntese. Síntese não só do nosso apostolado, mas também das nossas vidas, de modo que todos tenham claro: o nosso projeto não é outro senão o projeto de Deus para o gênero humano. 

E qual seria o projeto de Deus para a humanidade?

São Pedro o resume perfeitamente ao dizer na sua carta que somos divinae consortes naturae, “participantes da natureza divina”. Isso é o cristianismo. Essa é a maravilha de ser católico. Somos chamados a participar da natureza de Deus. Diz o Salmo: “Vós sois deuses” (Jo 10, 34; Sl 81, 6). Claro, não somos deuses no sentido estrito, mas, de alguma forma, somos chamados, no Céu, a participar da vida de Deus. 

Para entender como isso funciona, gosto de usar como exemplo a felicidade. Quem tem cachorro, sabe que a felicidade do animal está na chegada do dono, no carinho que recebe, no abrigo que o acolhe, na comida e na bebida que o sustentam. Eis toda a realização canina. 

No entanto, nós, que somos capazes de reconhecer a felicidade do cachorrinho, não podemos nos satisfazer com ela. Se tivermos cuidado, afeto, casa, comida, roupa lavada, dinheiro, bens, posses, poder, nisso tudo não estará a nossa felicidade. E não falo isso como dogma religioso. Falo de uma experiência universal que qualquer pessoa minimamente honesta admitirá como verdadeira. Todas essas coisas fazem parte da felicidade, mas — sabemos — não são a felicidade em si mesma.

Isso porque a felicidade humana é diferente da felicidade animal. Quando nasceu meu primeiro sobrinho — hoje com 30 anos —, tive, pela primeira vez, a experiência de uma criança em casa. Uma alegria. Certa vez, quando o menino já balbuciava as primeiras palavras, enquanto brincava de carrinho no chão, ele virou-se para mim e disse: “Tio”. Foi a primeira vez que ele chamou-me tio. Uma palavra tão singela: tio! Senti-me como se tivesse nascido de novo. Para aquele pequenino, eu já não era mais um rosto anônimo dentre tantos outros que lhe faziam caretas e gluglus. Eu era alguém para o menino. Ele me reconhecia como seu tio. 

Essa tremenda felicidade do reconhecimento, da gratidão, é completamente alheia aos animais. Quando cheguei para a aula, quantos alunos não barraram meu passo para dizer, sem chance de espera, que me eram muito gratos, que o apostolado no site havia significado muito em suas vidas. E vinham falar com lágrimas nos olhos. Lágrimas que exprimiam experiências que não seriam capazes de dizer. Porque é mesmo difícil dizer o que foi conhecer o caminho de Cristo e da Palavra de Deus — tenha o site apenas lhes aberto a porta ou conduzido os que já estavam dentro pelos salões e corredores deste imenso e deslumbrante palácio que é a Santa Igreja.  

Esse sentimento de gratidão só nasce de um passo intelectual superior: o da memória. E não da mera memória, pois desta os animais em certa medida ainda dispõem. A gratidão brota de uma memória que dá significado às coisas. É como quem pensasse: “Ora, lembro-me de que um dia tive uma dúvida quanto à religião e que a resposta encontrada no site foi decisiva para que eu me convertesse”. Nisso, as coisas como que se encaixam. E é nesse encaixe que podemos nos ver gratos pelos nossos benfeitores.

É uma felicidade que só os seres humanos podem experimentar. Se um dia chegarmos em casa e nos depararmos com o nosso cãozinho, banhado em lágrimas, dizendo em linguagem humana que nos agradece muito pelo abrigo, pelos carinhos e pela comida, estejamos certos: estamos diante de um fenômeno “sobrenatural”; um fenômeno que ultrapassa infinitamente a natureza canina. 

Ultrapassa, além do mais, porque a gratidão, filha da memória, também surge de um conceito de justiça. Ora, não há nada de anormal em recebermos aquilo que é de nosso direito. Mas, quando recebemos o que não nos era devido e sequer esperávamos, ficamos extremamente agradecidos. O senso de justiça nos diz que ganhamos o que não tínhamos direito de ganhar — e que, portanto, ninguém tinha o dever de nos dar; e se nos deu, foi por um gesto de carinho, de amizade etc. Nenhum animal — repito — é capaz de perceber essas relações e fazer esses juízos. 

Ora, disse que quero levá-los para o Céu, e que estar no Céu é participar da natureza divina, é experimentar uma felicidade que não é nossa, mas a felicidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. No entanto, para que isso seja possível, é preciso mudar a nossa natureza — assim como precisaria mudar a natureza do cachorro para que ele demonstrasse senso de justiça e gratidão. Em uma palavra, é necessário que haja, em nós, uma elevação do natural para o sobrenatural. 

Sobrenatural quer dizer o que está acima da natureza criada. E a natureza criada é mineral, vegetal, animal, humana e angélica. Ou seja, nem mesmo a natureza dos anjos é sobrenatural no sentido a que me refiro. Com sobrenatural quero aqui dizer divino

Voltemos ao que diz São Pedro: 

O seu divino poder nos presenteou com tudo o que contribui para a vida e para a piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou para a sua glória e força poderosa. Por elas foram-nos concedidas as maiores e mais valiosas promessas, a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, fugindo da corrupção que pela cobiça reina no mundo. Por isso mesmo, dedicai todo o esforço em juntar à vossa fé a fortaleza, à fortaleza o conhecimento, ao conhecimento o domínio próprio, ao domínio próprio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade a fraternidade, à fraternidade o amor. Se essas qualidades existirem e crescerem em vós, não vos deixarão vazios e estareis no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (2Pd 1, 3-8).

São Pedro fez uma síntese. Ele diz que há a natureza divina e descreve o caminho a ser percorrido até que a alcancemos. É, dentro das nossas capacidades, o que queremos fazer neste curso. Deus quer transformar a nossa natureza. Mas: como Ele faz isso? Como podemos colaborar para que isso aconteça? Ao mesmo tempo, quero que todos entendam como as várias (aparentes) partes da religião se encaixam em nossa vida prática: por que, no dogma, Jesus precisa ser Deus para que sejamos salvos? Onde entram os sacramentos? Onde entra a vida de oração? Como a graça age em nós? O que acontece com a nossa inteligência e com a nossa vontade? 

É uma meta bastante pretensiosa. Se vamos chegar ao final, conforme o planejado, não é possível dizer. O certo é que vamos avançando, num processo educacional livre, respeitando o tempo de todos, recuando quando for necessário, para que cheguemos o mais perto possível da desejada síntese e de uma compreensão mais clara do que é, para nós, o projeto de Deus.  

O curso é: quero levá-los para o Céu. Mas também: fomos feitos e designados por Deus para participar da sua natureza divina. Ou: há uma felicidade muito maior do que podemos imaginar. 

No final das contas, quero que todos saiam deslumbrados com o fantástico mundo que é a Igreja e repitam, boquiabertos, aquela frase que já vai se tornando um bordão, mas que guarda um significado verdadeiramente rico e profundo: É lindo ser católico! 

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